Iniciou-se o princípio do fim. Nada mais era o mesmo. As águas do rio da vida passam depressa, e levam muitas coisas. Em três dias, ninguém poderia dizer que esta choupana algum dia fora habitada. Estranhamente, o recinto entrou em estado de putrefação acelerado. As paredes rachavam, esgotos borbulhavam e o assoalho emitia um terrível odor de xereca encardida.
Só lhes restava chorar. O desespero começou a tomar conta da alma de Olívia Mara, que instintivamente, passou a culpar Julie Macieira, amiga de tão longos anos, pelo fracasso de seu antro de perdições. As brigas tornavam-se cada vez mais freqüentes, e também mais intensas.
Em noite de lua cheia, Olívia Mara lembrou-se de seu sonho com a cigana Santarosa e as três agonias anunciadas por ela. Essa noite seria de extrema importância na sua dependente vida. Em mais uma discussão, Olívia Mara partiu para cima de Julie, e no calor da briga, quando a loucura e a inconseqüência corroíam suas entranhas, num ato de ousadia sem precedentes, terminou por estrangular Julie Macieira, que foi morrendo devagarinho, tentando inutilmente conter a ensandecia Olívia Mara, dizendo que na vida, só restava a amizade, que só tinham uma a outra.
Estava tudo acabado. Olívia já se encontrara chorando sobre o corpo da amiga, que em rapidamente foi sendo decomposto pelos vermes gigantes que dividiam a moradia na choupana. Sobre os restos que ainda restavam da única amiga na vida, Olívia Mara fechou os olhos e adormeceu por três longos anos.
Agora, pela primeira vez na sua dependente vida, Olívia Mara estava sozinha. Ninguém mais iria guiar seus passos ou dizer o que fazer, quando e como. Pegou uma única blusa que lhe restara após o ataque de traças mutantes da chechênia, vestiu e decidiu ir embora.
A cegueira tomou conta por alguns minutos quando, depois de três anos, reviu a luz do sol. Passada, Olívia enxergou o mesmo mundo mesquinho e interesseiro que deixara durante sua hibernação. Sentou no chão, e ali, durante horas, ficou a contemplar tão angustiante visão. Era hora de ir. Fechou a porta, olhou para a chave, e, no momento em que ia joga-la, foi impedida por um homem cheio de vida, chamado Tiago Macambira.
Muitos dizem que não existe amor à primeira vista, mas o certo, é que naqueles dez minutos de vida que lhe restavam, Olívia Mara fora feliz, muito feliz. No ápice de seu trigésimo sexto orgasmo, sob o corpo do homem que a fez sorrir por ínfimos dez minutos, cerrou os olhos, e não tornou a abri-los.
A notícia da morte de Olívia Mara rapidamente se espalhou por toda a província, e de lá, para o mundo, mas apenas alguns curiosos e conhecidos retornaram para aquela velha choupana, que já não mais se deteriorava. Os vermes gigantes e as traças mutantes desapareceram, as paredes já não mais rachavam, e os esgotos expeliam água mineral.
Zétinho foi o primeiro a chegar. Muito rico, fez fortuna defendendo causas homossexuais na Holanda. Ele e Romeu Cabrito haviam se separado logo após desaparecerem da província, por conflito de interesses. Romeu casou-se e teve trinta filhos, e todos compareceram ao enterro. Claris e Djame, ainda inseparáveis, ganharam a vida aplicando golpes boa noite cinderela em otários que encontravam país afora. Nário Acimole e Hannah White Castle continuavam juntinhos em lua de mel constante, e dizem que, onde viviam, eram conhecidos por todos por suas loucas transas em plena relva. As gêmeas Juju Milamba e Juju Malfim não apareceram. Diz a lenda que morreram participando de uma seita de suicídio coletivo. Flúvia Renat soube da notícia na cadeia, e não pode ir ao enterro. Foi presa depois de matar seu oitavo marido, sempre em grandes crises de ciúmes. O estranho é que nenhum deles trocou um olhar sequer. Era como se não se conhecessem, ou como se, de alguma forma, disfarçassem alguma coisa.
Atenção: Essa é uma obra de ficção, e qualquer semelhança entre pessoas e fatos será uma mera coincidência!
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Rodrigo - 10/21/2002 12:59:00 AM -